segunda-feira, 20 de junho de 2016

Preconceito: Uma questão a ser enfrentada
Por: Guta Assirati
Se você é Umbandista (ou Candomblecista, Kardecista, ou pratica alguma outra religião espírita, espiritualista, ou de matriz africana), eu gostaria de te convidar a uma reflexão no dia de hoje. Você acha que isso te faz um alvo do preconceito, certo?
Mas, responda uma coisa: Você, realmente, já foi vítima de um ato preconceituoso por expressar sua religião? Ou morre de medo que isso aconteça, e por isso vive tentando esconder ou disfarçar sua prática espiritual?
Se você respondeu sim a qualquer dessas perguntas, talvez este seja um bom momento para refletir.
Se já sentiu-se violentado por alguma ação de preconceito ou intolerância religiosa, é porque alguém, sabendo que você é praticante da Umbanda, te ofendeu. Então, procure pensar sobre como reagiu a isso. Você simplesmente sofreu calado ou compartilhou sua dor apenas com seus irmãos e irmãs de fé, “deixando para lá” e tentando esquecer esse episódio, ou reagiu ao fato e procurou tomar uma atitude para transformar em alguma medida esse cenário?
Sabe o que é? Quando alguém te discrimina ou te agride por meio da materialização de ideologias e atitudes ofensivas às suas crenças e/ou práticas religiosas, simplesmente por você ser Umbandista (ou exercer qualquer outra religião), ocorre uma intolerância religiosa. O agressor (ou agressora), nesse caso, ofende sua identidade, desrespeita e afronta seus guias espirituais, fere a você como ser humano, e viola direitos que você tem como cidadã ou cidadão: o direito à liberdade de consciência e de crença, o direito ao livre exercício dos cultos religiosos, e a garantia de proteção a locais de culto e liturgias, todos previstos na Constituição Federal. Essas práticas ferem a liberdade e a dignidade humana, e são crimes! Por isso são passíveis de penalização, de acordo com a “Lei Caó” (Lei nº 7.716/89, assim chamada porque foi proposta pelo ex-vereador, jornalista e advogado Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos).
Então, reflita sobre como quer posicionar-se a respeito desse tipo de intolerância, caso volte a se deparar com essa situação. Afinal, você não está fazendo nada errado ou ilegal. Ao contrário, sua prática da Umbanda Sagrada é motivo de respeito e orgulho, e assim deve ser tratada por todo mundo, a começar por você. Se optar por tomar uma atitude sobre isso, saiba que até a lei te ampara, tanto a espiritual, quanto a jurídica.
Agora, se você ainda prefere que ninguém “descubra” sua orientação religiosa, o caso é outro. Tudo bem; isso é compreensível. Mesmo nos dias de hoje, o ódio e o preconceito, infelizmente, ainda moldam o comportamento de muita gente, impulsionando a prática de ofensas, discriminações, e intolerância contra praticantes da Umbanda.
A predominância da cultura eurocêntrica no Brasil também serviu para ensinar nossa sociedade a discriminar, menosprezar, reprimir, desqualificar, negar, e procurar banir as religiões que existem para além do Catolicismo. A Umbanda, o Candomblé, o Catimbó, a Jurema, historicamente, foram rotuladas como cultos de menor importância, crenças sem fundamento, ou rituais voltados à prática de feitiçaria ou encantamentos. Pura ignorância! E tá aí, no desconhecimento, a origem do preconceito. O sujeito desconhece o assunto, mas pré concebe ideias a seu respeito. E o pior, difunde essas ideias. Esse preconceito foi fortalecido pelo racismo e pelo classismo. Daí, houve também o tempo da proibição e da perseguição. As Casas de Santo eram impedidas de funcionar e seus dirigentes perseguidos. Quando se descumpria essa proibição, eram invadidas por policiais que as fechavam, inclusive com uso da força. Tudo isso levou muita gente a discriminar os Povos de Terreiro, alimentando no imaginário de nossa sociedade, uma concepção de que essas Religiões eram coisas negativas, marginais, proibidas.
Por isso, os próprios Umbandistas se viram obrigados a praticar sua religião de forma muito discreta, velada, ou até mesmo escondidos de seus familiares, colegas de trabalho, chefes, ou vizinhos. A pessoa dizia em casa que ia para o bar no sábado à noite, e estava de branco girando no terreiro, ou num banco de assistência esperando para tomar passe com Preto Velho ou Caboclo. E mais… domingo de manhã acompanhava os pais ou filhos na fila da comunhão na Missa da Paróquia…
Só que esse tempo passou. Nenhuma religião hoje é proibida. E se você sabe que a Umbanda não é feia, maléfica, demoníaca, ou marginal; que é uma religião com fundamentos e preceitos como qualquer outra, saiba que você conta com meios para difundir, informar, e ensinar seus verdadeiros valores, para partilhar os frutos de sua beleza e luz. Se você conhece a sua religião, se você a pratica com verdade, não há razão para constrangimentos ou medo, nem lugar para vergonha de assumir sua religião, caso isso seja necessário. A Umbanda é uma religião Sagrada, e como tal merece todo respeito, começando por aqueles que a praticam. Me diga se conhece alguém mais indicado para o trabalho da superação da ignorância (e com isso, do preconceito) do que os próprios Umbandistas?
Faça uma análise sobre o seu próprio papel diante desse cenário. Você pode tomar uma atitude e ajudar a desmentir as inverdades que afirmam sobre sua religião, ou continuar se escondendo atrás do seu próprio preconceito.
Portanto, se você se assume e sofre preconceito, é hora de pensar em formas inteligentes de enfrentar essa violência que praticam contra você, sua religião, contra os Orixás e seus Guias, e contra seus direitos. Se você ainda não se assumiu, talvez o seu caso seja mais difícil. Talvez você tenha que começar por desconstruir seus próprios preconceitos, antes de temer os dos outros.
Em todos os casos, o preconceito está aí, e é uma questão a ser enfrentada!


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